🗳️ O abolicionismo animalista tem partido e é de esquerda

Multidão de esquerda protesta em SP (Foto: Fabio Montarroios)
Multidão de esquerda protesta em SP (Foto: Fabio Montarroios)

Não existe movimento social apartado da política, assim como não existe política apartidária ou suprapartidária no Brasil.

O Brasil é um Estado Democrático de Direito onde o pluralismo político é um dos fundamentos da República. Com esta frase que extraímos do artigo 1º da nossa Constituição Federal podemos entender que se admite a diversidade de ideologias, pensamentos ou conjunto de ideias que passam a coexistir e se relacionar de forma interdependente e pacífica.

Essa multiplicidade política é expressa através da soberania popular, a qual é exercida através do voto nas eleições por meio de representantes que se organizam em partidos políticos (democracia representativa), inexistindo possibilidade de apartidarismo ou suprapartidarismo político. Isto significa que quem nos representa (ou quem supostamente represente a causa animal nos espaços de poder) tem partido.

Ninguém pode ser eleito, participar ativamente da vida política, institucionalmente falando, sem fazer a sua primeira escolha fundamental que consiste em se filiar a este ou aquele partido político. Naturalmente que candidatos(as) à cargos eletivos se filiam onde se identificam ideologicamente ou, ainda que não haja absoluta identificação, certamente se vincularão onde há uma mínima base de ideais convergentes. Filiar-se a um partido político é, literalmente, tomar parte ou integrar aquele sistema de valores ideológicos.

Além do pluralismo político, a nossa Constituição Cidadã também trouxe o pluralismo partidário, ou seja, uma grande diversidade de partidos, um pluripartidarismo que não é um problema em si, mas que acabou se desviando para um excesso de partidos políticos.

Temos excesso de partidos políticos no Brasil e algumas críticas a respeito, pois na prática, o que está entre esquerda e direita às vezes se torna um amontoado de ideologias confusas, fracas ou com poucas diferenças entre elas, seja nos posicionamentos políticos, ou nos estatutos partidários, o que acaba ensejando muitas distorções que fragilizam e colocam em risco o sistema representativo e o próprio regime democrático.

Não à toa, aqueles eleitos que não tem compromisso com a sociedade, ou os mais antidemocráticos (ou, quando se trata de pessoas do povo, aqueles desiludidos do sistema político ou despolitizados no sentido de carecerem de compreensão histórica, social e política) por vezes se colocam em uma conveniente “neutralidade” que se traduz naquela frase inventada “meu partido é o Brasil”.

Quem diz que o seu partido é o Brasil também tem ideologia e, portanto, também toma o seu partido, literalmente falando, seja na defesa de seus próprios interesses ou dos seus. Aqui também não há apartidarismo ou suprapartidarismo.

Não existe pessoa sem ideologia. A ideologia faz parte da vida humana, é a forma como vemos e percebemos o mundo ao nosso redor através do raciocínio, é a nossa postura perante as situações da vida que inclui nossas crenças individuais sobre conceitos como justiça, coletividade, segurança, direitos, individualidade, liberdade etc., é a nossa percepção sensorial do mundo externo, é o nosso conjunto de convicções filosóficas, sociais, políticas, morais, individuais e coletivas.

Dentro da causa animal, por exemplo, há diferentes ideologias. Há quem queira políticas públicas apenas para cães e gatos, há quem queira políticas para os animais silvestres, outros por sua vez desejam políticas para os animais explorados pela indústria pecuária (não necessariamente pela atividade pecuária em si), já outros possuem uma ideologia mais conservadora que se reflete na defesa de medidas bem-estaristas para os animais, enquanto outros lutam por uma efetiva libertação dos animais de toda cadeia exploratória (que é um campo ideológico mais alinhado ao progressismo) e assim por diante.

Portanto, se queremos eleger um(a) candidato(a) para um mandato parlamentar, o qual alegue representar a causa animal, precisamos de muita informação prévia acerca dessa pessoa antes de votar às cegas, como faríamos com qualquer outro(a) candidato(a). Às vezes pode ser muito mais interessante votar em quem não representa a causa, mas que pode estar receptivo(a) a considerar novas ideias e propostas que incluem o efetivo respeito aos animais em seu plano de governo.

Se não há pessoa sem ideologia, também não há pessoa sem partido no amplo sentido da palavra. Todos nós sempre estamos tomando partido em algo nas nossas vidas ou interagindo no mundo que nos cerca mediante posicionamentos ideológicos (sistema de crenças, costumes, valores, convicções) e é absolutamente lógico que isto não termina com o ingresso na vida pública ou política.

Não há uma descontinuidade ideológica entre o ser humano e o cargo político ou função pública que passa a exercer. Todo ser humano tem partido porque tem ideologia, se orienta por suas crenças, ainda que hipoteticamente não esteja muito consciente disto (o que leva muitos a anularem seu voto nas eleições, por exemplo).

É um desserviço a qualquer causa ou movimento social quando seus integrantes declaram, creio que seja por falta de consciência ou educação política, que não tem partido (“movimento apartidário”) ou, pior ainda, que a causa que representam está acima de qualquer partido (“movimento suprapartidário” ao estilo “Brasil – ou ‘nós’ – acima de tudo”). Mas quando se aproximam as eleições, esses mesmos ativistas que não querem vincular a causa animal a partido algum manifestam apoio a candidatos(as) que pleiteiam vagas no parlamento como representantes da causa animal. Ora, candidato(a) tem partido!

Jornadas de Junho na Av. Paulista, em 2013 / Foto de Fabio Montarroios

Parece que o único critério considerado é ser candidato(a) que diz representar a causa animal de algum modo, se apresentando como protetor(a) ou vegano(a), mas para ocupar uma função pública tão importante é preciso de muito mais. Algumas perguntas que merecem pesquisa: em qual partido se filiaram? Qual formação educacional? Qual ocupação profissional? Em quem votam ou apoiam nas eleições? O que pensam sobre abolicionismo, bem-estarismo? Conhece os direitos dos animais já alcançados? Conhece bem a legislação básica de proteção animal? Qual setor da causa animal representam? O que já transformaram? Quais as propostas concretas? Como pretendem realizá-las? Não podemos acreditar que uns posts e fotos nas mídias sociais com animais ou uma página na internet possa ser o suficiente.

Não há como apoiar candidaturas aleatórias de pessoas inconscientes ou despolitizadas apenas porque se declaram “amigas dos animais” e automaticamente esperar por relevantes transformações sociais em benefício dos animais. Se eleitas, estas pessoas também decidirão sobre muitas outras pautas, relacionadas ou não com a causa e o partido ao qual se filiaram ditará boa parte destas decisões.

Após uma boa análise, pode não ser interessante apostar nossas fichas em quem, definitivamente, não poderá mudar muita coisa, por melhor que sejam as suas intenções. Para quem busca real transformação social através de um mandato parlamentar, sobretudo na defesa de todos os animais, não é simplesmente algo fácil e mágico, como muitos fazem parecer.

NÓS FAZEMOS A POLÍTICA E TOMAMOS PARTIDO

Não é apenas por meio da política institucionalizada que podemos melhorar a condição dos animais na sociedade. Há muitas e diferentes maneiras e todos já somos esses agentes de mudança. Se você está aqui lendo este texto, ainda que acredite que nada esteja fazendo mas está aqui interessado ou curioso nesse tema, já é agente de mudança.

A libertação animal já está acontecendo há séculos. Ninguém realiza nada sem saber e reconhecer o que já foi conquistado. Vamos reconhecer cada conquista e toda a luta secular de quem se sensibilizou com o sofrimento animal antes de nós chegarmos aqui. Vamos honrar nossa caminhada e acreditar na transformação que já realizamos e que continuamos a realizar, por nós e pelos animais, a cada simples escolha do cotidiano, ao invés de se desvalorizar e apostar em “heróis ou heroínas salvadores” com um mandato parlamentar.

Todos fazemos política em diversos momentos da vida, fazemos política por meio de nossas escolhas, das mais simples às mais complexas, fazemos política pelos animais ao consumir ou não consumir certos produtos, fazemos política ao agir ou ao nos omitir, fazemos política quando incorporamos ou não a ética em nossas ações… É a nossa consciência que transforma o mundo e não a política partidária.

O indivíduo molda o social mas também é moldado por ele e isso é política, portanto, vamos nos conscientizar mais e reconhecer que já está excelente simplesmente fazermos a nossa parte na nossa vida privada, segundo nosso próprio juízo de valores, e se tivermos chance ou disponibilidade, em conjunto com mais algumas pessoas engajadas.

Não estou desestimulando ou desincentivando que pessoas comprometidas e idôneas participem ativamente da vida pública, que também é importante, mas é preciso mais consistência e um melhor preparo que vai além de carregar uma apresentação como vegano(a), protetor(a) de animais etc.

Ninguém precisa necessariamente “entrar para a política” porque todos já estamos inseridos nela, o que significa que sempre é a vez dos animais. Hoje mais do que ontem e amanhã mais do que hoje. Acredite.

Na causa em defesa dos animais também há os negacionistas. Alguns ativistas não enxergam a si próprios, nem mesmo a sua constante contribuição com os animais e só vêem esperança na política partidária, enquanto outros por sua vez rechaçam o partidarismo político. Outros envolvidos com a causa animal, negam ou desconhecem a existência do movimento histórico e secular da proteção animal no nosso país, pois talvez gostariam, eles mesmos, de “reescrever a história” do zero, como se pudessem apagar o passado e “começar o novo tempo” como protagonistas, bem à moda bolsonarista.

Defensores(as) do abolicionismo animal geralmente se alinham à esquerda, pois compreendem o contexto social, histórico e outras questões relacionadas, como a estreita ligação com a defesa dos direitos humanos e ambientais, por exemplo.

Creio que nenhum político idôneo levará a sério o legítimo movimento social em defesa de todos os animais enquanto a maioria de ativistas ou “influencers” – que são aqueles(as) que tem mais destaque e visibilidade nas mídias sociais – não tiverem uma base mínima de educação e compreensão social e política que fundamente coerentemente seus posicionamentos ideológicos. O que defendem, afinal? O que querem, concretamente falando? Se quem está dentro do movimento muitas vezes não entende, que dirá quem está de fora. O movimento em defesa dos animais é diversificado, plural e ativistas ou militantes precisam se posicionar claramente sobre o que pensam sobre diversas questões, especialmente se almejam uma vaga no legislativo.

Partidos de direita ou extrema-direita não se interessam em garantir a efetiva proteção ou os direitos para indivíduos vulneráveis e discriminados (animais) em face de um sistema econômico superpredatório, pois seus integrantes defendem esse sistema, declarada ou veladamente. Aliás, são bem simpáticos a tudo que é retrocesso. Então com essa turma tudo se resume a algumas medidas de pseudoproteção à cães e gatos e bastante populismo penal como a tal da tolerância zero ou cadeia para maus-tratos, o que sabemos que não melhora a situação dos animais. Cadeia não é política pública, nem liberação de armas, nem maior punição.

Saiba mais: DA SÉRIE PROJETOS DE LEIS CAPENGAS; PASSANDO A RÉGUA NO TEMA, por Vanice Cestari

Foto de ação pedindo cadeia para maus tratos em animais com cruzes e fotos coladas a elas em Brasília
Manifestação punitivista em frente ao Congresso Nacional / Foto de Sérgio Lima

Dentro da causa animal também há a categoria de empresários veganos que comumente estão mais alinhados e identificados com as pautas liberais da direita e até da extrema-direita que carrega bem forte a sedutora bandeira de mais punição, apoiando o atual governo federal (adeus defesa animal), enquanto ainda podem se identificar como abolicionistas. Raramente os veremos apoiando candidatos(a) ou partidos de esquerda. Logo, podem não ser boas referências como lideranças políticas em defesa dos direitos animais.

Escolhemos indivíduos, grupos ou ideologias com as quais nos identificamos, somos livres, mas simplesmente vamos nos aceitar como somos (caso contrário, podemos mudar de opinião) e assim, quando formos nos posicionar, o faremos de forma honesta, clara, evitando atrapalhar quem está buscando fazer um trabalho coerente e sério, inclusive na política. A confusão começa quando se passa uma imagem falsa de si, às vezes devido a uma autoimagem distorcida, onde se mistura conceitos, ideologias diferentes, contribuindo para a despolitização de um movimento socialmente importante que é a proteção dos animais no amplo sentido.

Também precisamos aceitar que nem todos praticantes do veganismo, vegetarianismo ou protetores de animais privilegiam ou priorizarão os animais a todo tempo, especialmente quando há conflitos com suas ideologias mais enraizadas ou com seus interesses pessoais. Quando a pessoa é candidata a um cargo eletivo, tanto melhor que saibamos pesquisar bem antes do voto em “defesa animal”.

Façamos a nossa parte, defendendo aquilo que acreditamos depois de ler, estudar, pesquisar, sentir e deixar cada um(a) com suas crenças e escolhas conforme a sua própria consciência. Perceber com maior amplitude todas essas questões também é desenvolver uma maior consciência política. E com mais consciência, tanto poderemos dialogar melhor com pessoas de fora da causa animal que poderão efetivamente nos ajudar (levando adiante essa bandeira pelos animais), quanto estaremos mais aptos para melhor escolher em quem votar.

A CAUSA ANIMALISTA ABOLICIONISTA TEM PARTIDO E É DE ESQUERDA

Em certos momentos, a falta de posicionamento claro ou a omissão também mostra a escolha de um lado, o voto ou preferência por um político ou partido, o apoio à ideologia dominante. Muito importante nos lembrarmos desses fatos nas próximas eleições quando alguns ativistas ou “influencers” reaparecerem falando de política com “ares de propriedade” na qualidade de candidatos(as) em “defesa animal”, alguns propondo o “novo” com o apoio ou apadrinhamento da velha política (que não é a da esquerda) e outras esquisitices mais.

Ativistas podem não ter partido político algum ou até mesmo não se identificarem com a política partidária e nem por isso deixarão de ser ativistas, pois o ativismo em si já é fazer política em outro âmbito, mas políticos ou candidatos(as) à mandatos eletivos tem sim partido, assim como a causa animalista abolicionista também tem partido.

Mas pode acontecer que em dado momento haja conflitos ideológicos entre interesses humanos (de candidatos ou ocupantes de mandato parlamentar) e o suposto melhor interesse dos animais, ainda que estejamos falando de “representantes da causa animal”. Daí a importância de acompanhar a vida política não somente perto das eleições, pois o brasileiro tem a fama de votar hoje e esquecer amanhã em quem votou, especialmente para cargos de vereadores e deputados, o que parece bem real.

Saiba mais: A CORRUPÇÃO DA CAUSA ANIMAL, por Fabio Montarroios

Os animais certamente não tem partido, mesmo porque não podem tomar partido de nada para serem lembrados ou beneficiados de algum modo, mas é óbvio que os ditos defensores ou defensoras de animais tem partido, porque estes e estas têm ideologia, muitas ideologias que podem convergir ou divergir.

A ideologia abolicionista está, sem dúvida, mais próxima do pensamento de esquerda, não importando se políticos profissionais ou partidos de esquerda ainda não tenham se dado conta da relevância dessa pauta e sua aproximação com outras tantas pautas de especial interesse social que é a questão da fome, da pobreza, das mudanças climáticas, da desigualdade, do trabalho escravo e outras questões interligadas que fazem parte da agenda esquerdista.

Protesto “Mulheres Contra Bolsonaro – Ele Não”, pré-eleição presidencial de 2018 / Foto de Fabio Montarroios

O lado que luta por mais direitos, por educação, por mais igualdade, inclusão, justiça social, solidariedade é o da esquerda. Já a direita se ocupa da defesa do mercado, da indústria, do crescimento econômico sem fim, sem preservação de direitos, sem preservação ambiental. A extrema-direita (atual governo federal) também é declaradamente inimiga dos animais com suas políticas de violência declarada, como a caça, liberação de armas, rodeio, vaquejada, cavalgada e toda ordem de retrocessos aos direitos animais. Então é de simples compreensão e não deveria restar dúvida sobre onde encaixamos a causa em defesa dos direitos animais, assim como sabemos quais políticos e quais partidos defendem direitos humanos.

Uma coisa é apresentar uma causa complexa (como a de defesa dos direitos animais) para toda a sociedade, independentemente do posicionamento político das pessoas para que possam conhecer o sofrimento dos animais, ver por um outro ângulo, ou se aproximarem de uma causa que visa proteger seres que acreditamos merecer visibilidade, direitos, dignidade. Outra coisa é esperar que determinadas figuras políticas ou partidos políticos (como os de extrema-direita) que são declaradamente avessos às pautas progressistas, humanitárias e sociais, possam se sensibilizar com o sofrimento dos animais (quando na realidade usam do escárnio), além de também ser notório que sequer se sensibilizam com o sofrimento humano. A questão central é que com alguns é possível estabelecer um diálogo, uma aproximação democrática, com outros não.

Nenhuma conquista de direitos acontece de um dia para o outro e assim é o movimento secular em defesa dos direitos animais no Brasil e no mundo. Na esfera política é importante identificarmos aqueles pontos que nos aproxima (que aproxima a causa pela qual militamos) de outros que, apesar de pensarem diferente da gente, ainda assim nos respeitam, respeitam a trajetória de quem chegou antes de nós, respeitam a nossa história, respeitam a nossa causa, respeitam a nossa luta. E além de tudo ainda defendem pautas ideológicas bastante semelhantes que a nossa. Isso também é fortalecer a consciência política.

Pessoas com boa vontade e abertura para novas ideias que possam beneficiar o coletivo (ideologia progressista) são aliadas da causa animal, o que dificilmente encontramos em pessoas centradas em seus próprios interesses e/ou interesses do grupo socioeconômico a qual pertencem, as quais tendem a se inclinar ao conservadorismo, ou até mesmo ao autoritarismo, classismo, racismo, sexismo, especismo…

Autênticos defensores dos direitos humanos têm partido, assim como os autênticos defensores do meio ambiente e, logicamente, os autênticos defensores dos direitos animais. Pessoas conscientes do que significa a constante violação de direitos e garantias fundamentais têm partido. Pessoas empáticas ou compassivas têm partido. Assim como aquelas que violam os direitos dos trabalhadores ou os direitos de outrem porque estão habituadas a valorizarem e priorizarem seus interesses econômicos a qualquer custo, ou porque ainda não desenvolveram a compaixão ou o amor pelo próximo, estas também têm partido.

A causa humana, ambiental e animal se assentam em uma base comum, ressalvadas suas especificidades, estando interligadas ideologicamente em sua raiz (busca da liberdade, igualdade, fraternidade, solidariedade, justiça, inclusão, dignidade, em uma inovadora sustentabilidade planetária).

A causa animal não é especial e diferenciada, assim como não o são seus defensores. Independente do movimento social com o qual nos afinamos ou nos identificamos, todos temos nossos interesses e direitos humanos (onde se inclui o meio ambiente) e é evidente que tudo isso também está em jogo em qualquer eleição cujo resultado impactará em maior ou menor grau a vida de todos.

É falsa a afirmação de que os animais foram excluídos da Constituição Brasileira e da Democracia. Muito pelo contrário, pois pela primeira vez na história do nosso país (e alguns garantem que na história constitucional do mundo), a eles foi reservada uma proteção especial no capítulo do meio ambiente.

A causa animal representa a defesa dos direitos fundamentais de indivíduos cujo sofrimento é invisibilizado ou desconsiderado por aqueles que tem o poder econômico, o poder de decisão e de comando (por quem detêm o capital), muito além do público consumidor. Os animais são escravizados e oprimidos pela indústria pecuária, pela economia, pelo mercado, pela academia (classe científica), em suma, pelo capital que comanda todos os setores sociais (e os governos).

Portanto, se torna evidente que a causa animal se insere no âmbito progressista (comumente o campo da esquerda), logo, quem pretende realmente fazer algo “grandioso” dentro da política partidária, antes precisa construir o básico fora dela e para isso deve compreender bem o movimento animalista e suas diferentes correntes ideológicas (abolicionismo, bem-estarismo, proteção de cães e gatos etc), a história, a legislação, a política, a sociedade, o que é democracia etc… para então perceber se tem algo a contribuir, qual é o seu partido, qual é o seu lugar, qual é o seu lado, qual seu verdadeiro papel na função pública que pretende ocupar, caso contrário, se eleito(a), poderá ser apenas mais um fracasso coletivo.

Atualmente não há lideranças na causa animal, pois não há nada sendo construído coletivamente que se aproxime de um movimento coeso, onde exista consciência política, com uma mínima agenda que seja inclusiva e democrática. Pautas genéricas ou superficiais não se sustentam, tampouco um movimento pulverizado onde ninguém sabe bem aonde está e para onde vai, nem o que buscar ou priorizar. Sem uma construção coletiva de base, ninguém pode representar ninguém na política partidária.

Precisamos amadurecer, além de estudar, além de criar propostas factíveis, concreta e potencialmente transformadoras. Vamos levar uma causa que acreditamos (e que alguns realmente vivenciam) a sério para que finalmente nos levem a sério. E, principalmente, para que levem à sério a causa e a condição dos animais na nossa sociedade, conforme permite nosso atual sistema político que é democrático, pluralista e partidário, assim como também deve ser a causa animal.

E quem pretende ingressar na política partidária como “representante da causa animal” deveria mostrar claramente seus posicionamentos, suas opiniões, para todos, não só em época de eleições (para o segundo turno no próximo dia 30 é obrigatória a manifestação, por óbvio), pois é assim que podemos começar a conhecer os futuros candidatos.

Nestas e nas próximas eleições, que possamos enxergar além. Muitas vezes é preciso coragem para se posicionar publicamente, tomar partido. A coragem deriva do amor, não da ignorância ou da intolerância. Então que tenhamos a coragem para escolhermos a melhor opção para os animais, para o planeta e para a coletividade. Tá bem fácil.

Protesto “Mulheres Contra Bolsonaro – Ele Não”, pré-eleição presidencial de 2018 / Foto de Fabio Montarroios

Vamos fazer a nossa parte para que haja mais vida, mais oportunidade e compaixão para com aquelas vidas invisibilizadas e sofridas, para que haja mais alegria, mais afeto, mais acolhimento, mais esperança, mais arte, cultura, livros, educação, solidariedade e mais justiça, a qual inclui o perdão.

Os apoiadores do atual governo federal já distorceram tanto o cristianismo, mas quando os reais preceitos cristãos forem incorporados em mais e mais vidas humanas, talvez não haja mais necessidade de polarização entre esquerda e direita como hoje, talvez tenhamos novos modelos políticos e sociais fluindo de relações verdadeiramente fraternas e amorosas. Até lá, façamos a nossa parte buscando maior discernimento e uma consciência mais integrada com o coração e com os pés bem firmes no chão a fim de que nos responsabilizemos por nossas escolhas, pois é tomando partido que este nosso mundo funciona.

Quem defende os direitos animais também tem lado nas eleições e toma parte em defesa do amor.