A escrita é um fluxo, eu escrevo porque gosto, além de ser um dom que carrego comigo, que valorizo e coloco à serviço em um ambiente pobre e superficial que norteia as discussões de internet, principalmente nas mídias sociais e é meu direito humano me expressar também dessa forma; há quem goste e há quem não goste do que escrevo e isso é natural. A escrita mexe com o emocional de quem escreve e de quem lê, a escrita é cura.
Vou continuar a fazê-lo sempre que sentir essa necessidade, seja aqui, nas redes sociais do Saber Animal ou na minha própria página pessoal. Eu escrevo sobre coisas diferentes e encorajo que façam o mesmo sempre que desejarem, principalmente as mulheres, ainda que eventualmente pareça irrelevante aos olhos alheios. Nada que venha de uma expressão autêntica e natural é irrelevante. Precisamos abrir cada vez mais espaço para vozes que curam neste mundo.
Nada em nós, humanos, é desimportante. Nada precisa ser desprezado. Tudo merece ser visto e acolhido como se manifesta, como o parágrafo abaixo, por exemplo. É meu direito me irritar com algumas coisas e não me irritar com outras, o que não significa dizer que isto é imutável, porque não é. Nada é.
Em meu momento atual, eu estou com o seguinte incômodo: como é cansativa as tais “bolhas”, panelinhas de gente que “pensa igual”, que “cria mais do mesmo”, que copia da outra sem citar a referência com ares de criação e novidade; que despreza a criação autêntica de outra mulher (porque talvez não se dê o próprio valor), que reproduz as bobagens que o outro diz e quer tolher quem pensa e se expressa livremente de maneira independente. Fala-se muito em despertar, mas o quão estamos despertas agindo desta maneira?
E o que eu faço com essas minhas irritações que exemplifico aqui? Eu as acolho, eu assumo a minha responsabilidade individual de cuidar delas, cuidar de meus incômodos pessoais e emoções; não vou perseguir essas pessoas e grupos nas redes sociais e fazer da minha vida e da delas um inferno. Se cada um aprender a lidar com seus conflitos internos, vamos melhorando e construindo um ambiente melhor ao nosso redor, percebe?
Aprendi que uma grande maioria defende direitos e liberdades da boca para fora porque não as vivencia na realidade da própria vida. A mente condicionada não pode libertar a si e tampouco aos outros.
Escrevo porque sou mulher (valorizo o feminino em mim), porque também crio através das palavras e também me cansa a futilidade, os títulos, os rótulos e a arrogância daqueles que “tudo sabem”. Ora eu sei, ora eu não sei, mas em qualquer caso eu escrevo (e sempre posso – e todos podemos – mudar ou ampliar a visão).
Aqui no site e nas redes sociais do Saber Animal, independentemente do que pensam, todos são bem vindos. Não precisa vir com o “desculpa, mas…” antes de comentar. Sem culpa, pois os comentários nunca me ofendem, de verdade; além de serem bem raras as ofensas, eu entendo os incômodos que surgem.
E por entender, eu aceito qualquer manifestação aqui contrária à minha porque me sinto livre quando escrevo, eu valorizo isso e permito que as pessoas que comentam também se sintam livres em comentar aqui. Aliás, se tiver fundamento eu amo porque me acrescenta, me enriquece, elogios sinceros também são bem vindos sempre, outras coisas raras de se ver na internet…
A militância por direitos, sejam eles quais forem, pode se inclinar para a liberdade em seu genuíno significado ou para a manutenção de aprisionamentos em diferentes níveis (físico / corporal, mental, emocional, espiritual).
A liberdade é um tema complexo e na defesa de direitos geralmente é usada de maneira inapropriada. Aliás, ser humano é ser imperfeito por natureza, o que muitas vezes pode ser difícil de aceitar, mas tudo serve aos nossos propósitos e por isso é que também são perfeitas as nossas imperfeições em um nível que nossa mente humana não pode compreender.
Os movimentos sociais carecem de pessoas que são inclusivas, compassivas, compreensivas, acolhedoras no sentido de aceitação do status quo do indivíduo e de sua humanidade para que então se possibilite a abertura de um espaço para a transformação individual e coletiva.
Nos ativismos relacionados aos direitos humanos de um modo geral, a fixação com o identitarismo já distorceu em muito a legítima defesa de direitos na sua origem, prevalecendo os tais “cancelamentos”, as “lacrações” e uma perseguição velada ou policiamento de quem diz o quê, um controle obsessivo para encontrar na fala do outro um pequeno deslize para então entrar a acusação e a condenação.
O ser humano é complexo, não nos definimos ou nos resumimos aos nossos feitos e muitos, por não aceitarem tais condições e contradições em si mesmos, o que pode ser uma jornada a ser empreendida na própria vida, despejam a sua intolerância, fato sempre presente em praticamente todos os grupos e movimentos sociais.
A internet também pode ser um ambiente hostil ou amigável; é o nosso estado interior, quando a usamos, que vai definir se estamos contribuindo e criando nesse espaço através de narrativas de “guerra” ou de “paz”.
“O que estou escolhendo acrescentar ou compartilhar, aqui e agora, no mundo?” Essa pergunta é importante de se fazer quando nos comunicamos, na internet e fora dela. Estou consciente de que meu gesto tem impacto direto na vida do outro?
Saber ouvir e comunicar a nossa verdade é importante.
As diferenças tem espaço e direito de existência no mundo e é a base para qualquer relação saudável, consigo e com os outros. É impossível que todas as pessoas de um mesmo grupo pensem exatamente igual, querer forçar isso é doentio.
Muitos não sabem escutar o que o outro tem a dizer porque não escutam a si próprios.
Quem se silencia, silencia outros. Que não se permite pensar diferente, impede ou não aceita que outros pensem diferente. Uma pessoa disse aqui em um comentário “isso não é Saber Animal”. Se para ele não é, para mim é, que criei esse nome e tem tudo a ver com a proposta do site. Eu sei que alguns gostam e outros tantos não gostam do que eu escrevo, mas é o meu direito escrever aqui e ponto final. Quem não gosta nunca tem um argumento para explicar o por que de não ter gostado. Isso é muito pobre e então eu escrevo mesmo.
Quem não observa seus diálogos internos se maltrata, geralmente sem perceber, e consequentemente maltrata os outros.
A expressão autêntica do ser é sempre saudável e a do ego separado (a supervalorização da mente) é limitadora e julgadora por natureza.
Em qualquer ativismo, regras e normas em geral são ditadas por pessoas que, embora pareça, muitas vezes não sabem o que estão falando (há prevalência de subjetividades e de condicionamentos mentais).
Não existe movimento libertador algum quando se tem que seguir um sistema de regras rígidas determinado por pessoas que não sabem o que é justiça, liberdade e compaixão porque não vivenciam essas qualidades essenciais na própria vida.
“Falar por outro ser”, “ser a voz dos sem voz” às vezes pode ser a fala do próprio ego. Os animais “falam” o tempo todo com quem os vê e sabe ouvi-los e muitas vezes não precisam de intermediários selecionando o que será dito, quando, como, por que e para quem.
Toda vida quer viver, de fato, mas o ego humano não sabe da realidade mais profunda da vida. Tudo é ensinamento e não é somente a natureza e os animais que nos ensinam a viver. Em todos os movimentos sociais há um desprezo inconsciente (e às vezes consciente) pela humanidade e desse lugar não existe possibilidade alguma de mudança. Toda manifestação de luz e sombra na Terra tem o seu propósito e nem tudo a mente humana pode compreender. Os egos detestam isso que estou escrevendo (muitas vezes o meu também, é claro), mas a luz não pode existir sem a sombra e há lugar para cada coisa aqui na Terra ao longo das eras…
A cura da humanidade é a grande contribuição para a libertação dos animais e da natureza, o retorno ao ser e nem tanto ao fazer.
Não é um simples fazer, desconectado de si mesmo, que promove transformações duradouras. Na defesa de direitos humanos também é comum a pessoa falar de inclusão enquanto na vida pessoal pratica a exclusão. Isso está em todos os grupos. A responsabilidade é de cada um pelo seu processo e não é do coletivo ou dos outros mudarem. São essas incoerências e contradições reais que reverberam no mundo e não o discurso bonito para impressionar os outros.
Conceder-se liberdade para caminhar na vida e para escolher qual caminho seguir de acordo com a própria verdade interior é um ato de amor próprio, ignorado por muitos, e contribui para a libertação dos animais e da natureza em outro nível. A compaixão pelo outro se torna natural quando vamos nos aceitando e acessando essa compaixão interna.
O mundo precisa de inclusão real, cooperação, compreensão, entendimento, leveza e não julgamento. Não precisamos importar ou reproduzir falas e comportamentos alheios por questões de pertencimento ou identificação, cada um pode encontrar a sua própria sintonia dentro de si.
Também não promove mudança estrutural na sociedade ditar normas de conduta rígidas, tão habituais de se ver em discussões de veganos, por exemplo. Isso é mais do mesmo. Já foi o tempo de regras externas “isso pode” e “isso não pode”. E além disso, essas falas são desprovidas de fundamento, são inviáveis ou inaplicáveis na prática da vida cotidiana, é dirigida para alguns, na realidade uns poucos consumidores e ao mesmo tempo liberam outros para que sigam na roda estrutural exploratória. Quem realmente sente compaixão e desenvolveu um sentido saudável de ética dentro de si sabe se orientar a partir de seu interior.
Esse costume de ditar regras, “leis” aos outros é historicamente injusto e de algum modo valeu no passado, mas hoje a sociedade está exaurida disso. Já adquirimos bastante conhecimento, bastante noção de respeito aos outros e tem se ampliado um senso de ética e justiça que inclui a natureza e os animais, um crescente e emergente movimento que não há mais como voltar atrás.
A frustração, o incômodo, o desconforto, o conflito, a dor, tudo isso faz parte da vida. Aceitar tais fatos nos liberta e nos poupa de falsos problemas inventados. Estamos atravessando processos de libertação e quanto aos animais e a natureza isso também está acontecendo e independe de nossas opiniões ou pormenores do que fazemos, tampouco de quereres do ego.
Ainda que tenhamos objetivos em comum, visões de mundo compartilhadas e que façamos algo em comum, a sua verdade muito possivelmente não será a mesma que a minha e vice-versa. Pessoas são diferentes, caminhos são diferentes. E está tudo bem em ser exatamente assim.
Cada ser é único, todos somos importantes, vulneráveis e então que possamos fazer de cada oportunidade um aprendizado em um patamar mais elevado! E assim nos reconciliamos mais um pouco conosco e com os outros.
Que a luz ilumine sempre nossas escolhas!