🗞️ O veganismo pode nos ajudar contra o coronavírus?

SARS-CoV-2
Foto: Alissa Eckert

As medidas de distanciamento social aplicadas por governos no mundo todo devido a pandemia em curso do novo coronavírus (SARS-CoV-2) certamente apresentará reflexos nos mais diversos setores socioeconômicos, cujos impactos só saberemos no futuro quando a vida voltar ao “normal”, bem como se haverá ou não mudanças sociais significativas.

O veganismo poderia ser uma dessas mudanças e nos ajudar imediatamente nessa e em tantas outras crises, mas, por ora, a única certeza (que deveria ser incontestável para qualquer observador humano) é que foi esse “normal” que nos trouxe à presente calamidade mundial sanitária que jamais pode ser entendida como uma situação inevitável, inesperada ou inusitada, muito pelo contrário. Não é de hoje que estamos sendo expostos aos resultados de nossas atitudes, hábitos e costumes com as outras vidas que nos circundam.

A responsabilidade é individual e ao mesmo tempo coletiva, vindo à tona de maneira muito clara: o que uma pessoa faz ou não faz afeta sobremaneira todas as outras independentemente de qual canto do continente se está, em uma relação global de interdependência mútua. As pessoas controladoras pensam que dirigem suas vidas, no entanto, quando a nossa vulnerabilidade (ou animalidade) é exposta, entendemos que sequer controlamos a nossa própria vida e que, mesmo assim, somos corresponsáveis pela existência ou sobrevivência de outras vidas, tão significativas quanto a nossa.

O que estamos vivendo hoje é mera consequência do nosso comportamento humano irracional e extremamente predatório, da ambição desmedida da humanidade que pode ser traduzida pela simples lei da ação e reação no tocante ao tratamento que dispensamos aos demais animais e ao meio ambiente natural.

A instrumentalização, o utilitarismo (o uso de animais não humanos sob uma perspectiva humana aceitável) de tudo que é vivo, que são posicionamentos calcados em bases antropocêntricas, nos trouxe a esse estado de coisas insustentáveis com potencial de desmoronar a qualquer momento em cima de nossas cabeças. A exploração animal e ambiental ainda é vista como algo essencial, natural e normal. O que mais interessa às sociedades humanas, onde se incluem governantes e empresariado, mas não se cinge a estes, são os números da economia e seu fastidioso e avassalador crescimento, onde a “lógica” dominante é quanto maior a exploração, maiores são os lucros. Não só os limites foram, há muito, ultrapassados, como o nosso sistema de vida contemporâneo – penso que subjacente e muito mais profundo que o capitalismo – deixou de fazer qualquer sentido lógico se pretendemos continuar a habitar este planeta. (Habitar outro planeta para destruí-lo também? Espero que esta nossa presente humanidade, que caminha velozmente à extinção, não alcance tal torpeza).

Sob à ameaça invisível de um vírus que mais parece atuar como um sistema de defesa da Terra, onde a grande ameaça à vida coletiva – e à nossa própria individualidade – somos nós mesmos, seres humanos desta era, muitos aprendizados são possíveis de captar. As profundas transformações estão nas sutilezas da vida, naquilo que não é visto, mas sentido, e antes mesmo de alguns de nós, povos humanos, termos adentrado na parte mais severa ou prolongada da reclusão social imposta por uma matéria biológica “insignificante”, é possível evidenciarmos desde já que é mais do que possível, mas desejável, mudarmos repentinamente de costumes e tradições em nome da própria sobrevivência individual e/ou coletiva, que no fim das contas são as duas faces da mesma moeda. (Quantos de nós, nesse tempo, somos capazes de imaginar o sofrimento que impomos aos demais animais que confinamos, usamos e executamos para nosso deleite?).

O momento presente tem nos forçado a mudar, imediata e drasticamente, ainda que temporariamente, nossos hábitos mais inofensivos como cumprimentos e encontros sociais, ou fatalmente sucumbiremos à nossa própria extinção. Isso evidencia que a radicalidade pode ser benéfica e necessária, onde sequer temos tempo de adaptação quando se trata de sobrevivência. Assim devem ser encaradas as necessárias e urgentes mudanças que devemos empreender no trato com os demais animais e com o meio ambiente natural.

Ante todas as evidências, nunca foi tão fácil empregarmos agora todos os nossos esforços, à nível individual e coletivo, para parir em todos os cantos uma sociedade de valores biocêntricos, deixando de vez, no passado, a roupagem antropocêntrica, arrogante e soberana da humanidade. Cada vez mais a evolução dos fatos e dos acontecimentos diários tem nos empurrado à constatação inexorável de que é chegada a hora de aprendermos, pelo amor ou pela dor, a respeitar os demais seres vivos com quem dividimos o planeta. O fluxo harmônico da vida na Terra é o nosso único mestre soberano e os animais não humanos são os nossos companheiros nesta jornada planetária. Ir contra a ordem natural das coisas deste mundo é assinar a própria sentença de morte. O coronavírus é apenas mais um alerta para que despertemos para a nossa chance de vida, para o renascimento da nossa humanidade. A mudança está em nossas mãos, literalmente.

Daí que adotar o veganismo para a vida e seguir cultivando relações saudáveis e éticas com os demais seres vivos é, sem dúvida, um fácil e eficaz caminho para a implementação de uma nova era humana. Podemos não enxergar a ameaça viral, mas nem por isso podemos escapar das evidências que batem, insistentemente, às nossas portas. Se respeitássemos os animais não humanos e a natureza em sua integralidade, esses males seriam evitados. A sobrevivência humana depende do que fazemos ou deixamos de fazer com as demais vidas. O veganismo é o primeiro passo da ética prática que engloba todos os seres viventes, humanos e não humanos. Quando veremos as evidências invisíveis? Quando ouviremos as vozes inaudíveis? Nós, vegans, animalistas abolicionistas, antiespecistas que lutamos contra todas as formas de opressão, sobretudo a dos animais não humanos, mais uma vez fazemos um novo chamado para a tomada de consciência humana, onde quer que estejamos. O respeito à vida animal, humana e ambiental, a efetivação da justiça por meio da mudança permanente de hábitos nocivos, estão, mais uma vez, à nossa frente. Eis um exemplo verificável nesta notícia (leia aqui). Permitiremos esse saudável contágio consciencial?