🗞️ A morte do ativista Homero Gómez González

No velório do ativista Homero Gómez González encontram-se diversas pessoas. Seu caixão está sob a bandeira do México e, ao fundo, a imagem de uma grande borboleta monarca
Uma última homenagem a Homero Gómez González / Foto de Iván Villanueva

A vida dos ativistas em causas ambientais não é simples por vários motivos: sua tarefa de convencer pessoas a mudarem comportamentos ou o ato de denunciar determinadas práticas, quando não resultam em indiferença, podem até levá-los à morte. Foi esta última situação, infelizmente, com o qual Homero Gómez González se deparou em seu país, o México. Ele estava desaparecido há duas semanas e foi encontrado morto. Apenas em 2018, outros 14 ativistas, segundo a ONG Global Witness, também tiveram o mesmo destino que ele apesar das promessas do presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, em deter os ataques aos defensores da natureza.

Homero Gómez González era um homem que protegia borboletas. Ele promovia a retomada das borboletas monarcas que, provavelmente, todos já devem ter visto pessoalmente em algum momento, mas que se tornaram cada vez mais raras. Sua ação no Santuario El Rosario, um dos principais refúgios para a Danaus plexippus durante seu longo processo de migração que parte do Canadá, passam pelos Estados Unidos da América e chegam até os bosques de Michoacán, permitia que elas se reproduzissem e voltassem a ser quase tão numerosas como sempre foram até a nossa voracidade destruir seus habitats e as afetarmos com o aquecimento global. As imagens das incontáveis borboletas sobrevoando González de braços abertos impressionam e, agora, emocionam… Considerar o assassinato de uma pessoa que cuida da preservação de borboletas, se houvesse uma escala da banalidade do mal, certamente seria um dos casos de maior falta de sentido e de maior covardia. Suas denúncias contra desmatamento ilegal na região lhe renderam ameaças e fazem parte da linha de investigação da polícia local que ainda precisa confirmar a ligação entre seu ativismo e sua morte.

Atualização em 7/2/20: Homero Gómez González, segundo as autoridades locais, sofreu um golpe na cabeça antes de morrer e, por conta disso, ao cair num poço se afogou. E, se não bastasse, Raúl Hernández, outro ativista que atuava pelas borboletas, foi encontrado morto com sinais de violência pelo corpo na área em quem se localiza o santuário. Estas informações são do portal de notícias Eldiario.es.

Abaixo está uma de suas últimas postagens no Twitter, convidando as pessoas a irem ao santuário:

González, em entrevista ao jornal The Washington Post, já havia declarado que vinha sendo uma luta manter o santuário e que não estava sendo nada fácil. Mas ele era um visionário: mesmo enfrentando o ceticismo de sua família, que tinha receios que conservar a floresta poderia levá-los à pobreza, ele notou o potencial turístico representado pelo espetáculo das borboletas e que o santuário se tornaria algo muito melhor para todos, ao invés do desmatamento da floresta.

O Brasil, por sua vez, não fica muito distante quando o assunto é assassinato: em nossas terras foram 20 os ativistas mortos no mesmo período. Um ano antes, em 2017, não por coincidência o período em que o golpista Michel Temer e suas políticas criaram o clima perfeito para ações violentas, o Brasil simplesmente liderava este triste ranking de ativistas assassinados. O país está agora em 4º lugar, pois ultrapassado por Índia (23 mortos), Colômbia (24 mortos) e pela campeã Filipinas (30 mortos), onde o macabro presidente Rodrigo Duterte encampou uma violentíssima política de justiçamento, permitindo que agentes da lei matem e fiquem impunes.

Gráfico com número de ativistas mortos em 2018 da ONG Global Witness

O relatório da ONG Global Witness para o ano de 2019 certamente deixará claro o rastro de sangue e destruição causado pelas políticas do governo Jair Bolsonaro e seus apoiadores. Aguardemos!

Isto posto, vale frisar que ativistas estão permanentemente em perigo. Seu ímpeto, geralmente desinteressado, é, justamente, a maior ameaça aos interesses de governos e empresas sem escrúpulos, que são capazes de esmagar a natureza, animais e a vida humana para seguir adiante em busca de mais poder e lucro. Não à toa, alguns grupos, incluindo os veganos, entraram para a lista de antiterrorismo da Inglaterra, conforme já falamos em outro momento. E, se não bastasse, criminosos também representam uma grande ameaça, como é o caso do terrível Cartel de Jalisco Nueva Generación, no México, conforme relata o jornal El País. Daí que apoiar e exigir proteção aos ativistas é tarefa e dever de todo cidadão, afinal, sem o ativismo de muitas e muitos, o caminho para a barbárie está totalmente livre.

O lema, agora um tanto irônico, do Santuario El Rosario é “celebra la vida“. Mas de que jeito?