🗞️ Deixem as árvores e seus moradores em paz!

Aves agarradas à tela na varanda de apartamento em Ilhéus após árvores serem cortadas em avenida da cidade — Foto: Reprodução/Redes Sociais
Aves agarradas à tela na varanda de apartamento em Ilhéus após árvores serem cortadas em avenida da cidade — Foto: Reprodução/Redes Sociais

Divulgo a notícia como uma forma de protesto. Um registro para não deixar o fato morrer junto com as aves e as árvores.

A derrubada sistemática e criminosa de árvores e/ou podas drásticas que também aniquilam árvores virou prática corriqueira das prefeituras de muitas cidades brasileiras, o que pode ser observado durante uma caminhada nas ruas dos bairros onde moramos ou ainda com uma breve pesquisa na internet.

Centenas de pássaros estão sem ter para onde ir depois que árvores amendoeiras foram derrubadas na avenida Soares Lopes, no centro de Ilhéus (BA)

Recentemente foi divulgada essa trágica ocorrência que vitimou fatalmente muitas aves, possivelmente devido ao grande estresse que sofreram na cidade de Ilhéus, estado da Bahia, mas que poderia ter ocorrido em qualquer outra localidade. Pela lei federal de crimes ambientais (lei nº 9.605/98), tanto as aves silvestres como os seus ninhos estão protegidos e, portanto, não podem ser arbitrariamente removidos, além dos animais serem constitucionalmente protegidos.

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Não sabendo conviver com o pouco que resta do que é belo, vivo e natural em meio ao tórrido cimento e concreto das cidades, as justificativas para o assassinato das árvores são em sua maioria vexatórias, reveladoras de uma profunda ignorância e insensibilidade para com as árvores, para com os pássaros, além de uma total inconsciência ambiental que respinga em nossa qualidade de vida, mais do que um mero desrespeito à legislação aplicável.

Como nos sentiríamos se nossos lares fossem subitamente demolidos? Todos sabemos que os animais sentem. E eu suponho que alguns deles sentem muito mais do que nós, seres humanos. Sentem tanto que podem morrer repentinamente em consequência de nossos atos impensados.

Será que estabelecer um plano de manejo de aves em casos tais, o que sequer costuma ser feito dada a urgência dos agentes públicos e empresas contratadas para passar a motosserra, pode ser capaz de garantir a paz a esses animais sensíveis que, já sem muitas opções de moradia, finalmente encontram algumas árvores onde possam construir ninhos, socializar entre si, descansar depois de uma longa e inquietante jornada?

Sob a ótica ambiental, alguns dispositivos legais também se traduzem em crueldade para com os animais não humanos, pois muitos de nós ainda acreditamos ter a natureza um caráter instrumental, como se estivesse à nosso exclusivo serviço. Assim, os resquícios do antropocentrismo ainda se fazem presentes.

Destruímos o natural para implantar o artificial em um suposto “progresso” de nossas cidades, desconsiderando a vida e o bem-estar de outros seres. Achamo-nos os únicos habitantes das cidades com direito ao desfrute do meio ambiente que nos cerca e assim iniciamos a devastação já no quintal de nossas casas, de nossas calçadas, nossas ruas e bairros. Apurou-se que a cidade de São Paulo, por exemplo, derruba 22 árvores por hora!

Ainda que se cumpra o rito legal e administrativo para a derrubada de uma ou algumas árvores, o que parece ser uma exceção dada a grande destruição das áreas verdes que presenciamos rotineiramente, não seria a hora de nos perguntarmos honestamente o que nos impede de preservar, cuidar (e por que não amar?) as árvores e respeitar os direitos de seus alados habitantes? Ainda que por temperaturas mais amenas ou ganho ambiental equivalente, precisamos rever esse comportamento!