O significado espiritual do Natal é o nascimento do Cristo em cada um de nós. As luzes que enfeitam as casas, que por sua vez enfeitam as cidades, podem representar simbólica e inconscientemente, o profundo anseio que temos em nos conectar com a nossa luz interior, em irradiar e expandir a nossa luz.
Com um sincero comprometimento, a nossa luz pode se intensificar tanto a ponto de abranger aqueles que estão próximos e não tão próximos de nós. A luz é para todos, é como a vela que, uma vez acesa, vai iluminando tudo ao redor, lenta e constantemente. Em todos os seres vivos, em todas as manifestações da vida habita o divino e o ser humano pode acessar ou escolher conscientemente acessar e sustentar essa luz dentro de si, reconhecendo o ser divino que é, para si e para a contribuição com o Todo, em unificação com todos os seres humanos, animais, natureza. Todos nós seguimos propósitos evolutivos no macrocosmo, ocupamos corpos diferentes nesse espaço e nós, humanos, podemos relembrar quem verdadeiramente somos em essência.
Alguns se sentem mais alegres no Natal, outros mais tristes, tudo bem isso ou aquilo porque cada um de nós carrega emoções e experiências acerca desta data, mas proponho aqui fugirmos de cobranças internas e externas, dos padrões certo x errado. Podemos encontrar uma oportunidade para silenciar um pouco os julgamentos do nosso ego que nos conduz às ilusórias separações excludentes (humanos “bons” x humanos “maus”; humanos x animais; humanos x natureza) para então nos presentearmos com a verdade que se revela em nosso silêncio interior, com o nosso centro de equilíbrio através de minutos de introspecção, de conexão silenciosa com o nosso coração, simplesmente em reverência à vida como ela é, ao mundo como ele está. Este exercício pode acabar nos retirando um pesado fardo das nossas costas. E fardo nenhum é necessário carregarmos porque o objetivo é caminharmos para o essencial da vida que passa pela abertura do coração e não paralisarmos em sentimentos de culpa ou autopunição.
Se estamos vivos aqui neste planeta como seres humanos, misturados à dor, injustiças e sofrimentos, eis a grande oportunidade de criarmos um mundo diferente a partir de nossa existência. Nosso desafio é buscarmos a sustentação prática do amor que vem da fonte interior (e não de outros seres, de alguma entidade externa ou distante), nos conectando e nos preenchendo de virtudes que gostaríamos de ver nos outros e no mundo. Se os outros ou o mundo não nos oferece amor, acolhimento, paz e tampouco oferece aos animais, sejamos a paz em ação, o amor em ação em nossas vidas, mas isso requer leveza e honestidade conosco mesmos, humildade ao nos darmos conta de que nos compete transformar unicamente a nós mesmos.
A maioria de nós permanece na separação egoística porque não compreendeu a essência do amor que é incondicional, infinito e abundante. Só quem se conecta com o amor da própria essência pode amar. A comunhão e a fraternidade somente é possível quando vamos percebendo e integrando nossas imperfeições humanas não no sentido de um conformismo, mas com aceitação e compaixão a fim de que possamos transpassá-las, percebendo mais a nós mesmos para então perceber os outros a partir de nossa humanidade compartilhada, ao invés de julgar ou discriminar. E assim, naturalmente vamos sustentando um pouco mais a manifestação da nossa luz interior, corporificando e contribuindo com a expansão da consciência crística neste maravilhoso planeta.
Amor, compaixão, perdão, nascimento, renascimento… são algumas palavras que podemos rememorar no dia de Natal para que nos inspiremos a praticar a consciência crística na nossa vida diária. Ao incluirmos em nossa consideração os animais (não participando da violência através da abstenção de consumo de seus corpos, por exemplo) e, evidentemente, estendendo nossa compaixão aos seres humanos, ou vice-versa, encontramos formas de manifestar o divino que habita em nós, compreendendo que todos os seres têm o seu valor intrínseco e cada pessoa humana tem o direito divino de fazer suas próprias escolhas conforme seu grau de consciência.
A verdadeira compaixão não é seletiva, então ela pode ser sentida e praticada inclusive perante aqueles que mais nos ofendem ou que mais ofendem os animais, pois aqueles que violentam ou agridem outros seres certamente são os que mais necessitam encontrar o amor. É o amor que liberta do sofrimento. Então, em primeiro lugar, talvez devêssemos incluir verdadeiramente a nós mesmos nessa compaixão, talvez possamos deixar atuar a nossa parte mais essencial ou divina que está muito além de nossos quereres egocêntricos que causam sofrimento a nós e aos outros quando nos julgamos, quando queremos controlar as atitudes alheias, quando nos separamos em disputas inúteis de comparação, competição, quando nos perdemos em sentimentos inferiores de vingança, ódio, exclusão, medo…
Que neste dia possamos dar uma trégua aos pensamentos julgadores e sejamos inspirados a sentir o mundo e os outros um pouco diferente do que estamos acostumados. Que possamos nos acolher em nossas dores e desafios. Que possamos abrir mão do controle da vida e dos outros, daquilo que “deveria ser”, do que deveriam fazer ou não fazer… Que a certeza absoluta de um propósito maior e divino da nossa existência humana nestes tempos aqui na Terra, muito além de nossa pequena mente, possa nos guiar. Que nossa mente humana possa se reconectar com nosso coração que sabe amar incondicionalmente. Podemos nos conectar com a consciência crística para sermos contribuintes da libertação humana e animal. Que não nos falte coragem, palavra esta que significa ação do coração!
Que então espalhemos a compaixão, na mesa através de refeições sem animais no prato, ou fora dela, em nossas relações humanas; porque uma coisa não exclui a outra. Que assim o silêncio de nossa mente e o pulsar de nosso coração possa ganhar mais espaço para emergir o nosso ser, que esse vazio repleto de luz e de vida nos abasteça, para que possamos compartilhar desse amor genuíno e transbordar compaixão para todos os seres, para aqueles que amamos e principalmente para aqueles que (ainda) não amamos, sem excluir ninguém. Essa é a minha oração de Natal.
Além de crenças ou opiniões individuais, de celebrarmos ou não o Natal, se vinte e cinco de dezembro foi ou não o dia real do nascimento de Jesus, de relacionarmos ou não este dia com antigas festividades pagãs ou ainda ficarmos presos na identificação com o sofrimento de animais mortos que são servidos em muitas mesas natalinas, o profundo significado deste dia vai além de tudo o que é mundano, transitório e imperfeito.
Neste dia de Natal você pode estar na sua própria companhia, mas ainda assim nunca estará só, pois todos nós portamos a nossa luz interna que a qualquer momento pode se manifestar se assim permitirmos, porque somos amor. No dia de Natal talvez você esteja reunido em família, em grupos, talvez não, isso não é o que mais importa. Você pode se sentir mais alegre ou mais triste de um jeito ou de outro e tudo bem, vamos curtir ou acolher o nosso momento.
De qualquer maneira, o Natal pode nos reservar uma oportunidade maior de entrarmos em contato com a nossa luz interior, a nossa essência divina que é perfeita e eterna. É somente neste espaço interno de silêncio, nós conosco mesmos, estejamos a sós ou acompanhados, que podemos encontrar a verdadeira paz e conforto para tudo aquilo que nos entristece no mundo exterior.
O Natal é uma oportunidade de renovarmos o nosso compromisso com a Vida, de sermos canal de entendimento, de compreensão, de compaixão, de reencontro e, se possível, de partilha dessa nossa força interior. Natal não é mero consumismo ou encontros familiares obrigatórios, também não é veneração de uma personalidade distante ou inalcançável. Natal é oportunidade de corporificarmos um pouco mais da consciência crística em nosso ser, de nos inspirarmos em sentimentos mais elevados para sermos o próprio Cristo em ação, manifestando em cada ato o ser divino que somos.
O Natal é o reacender da nossa luz interna, o renascimento do autoamor genuíno, a despeito de nossas limitações humanas, para que possamos ir acessando e estendendo um pouco mais desse amor divino e incondicional que encontramos nas profundezas do nosso ser à todos os seres, aos nossos próximos e à humanidade. Eis o profundo significado do Natal, que tomara seja o norte do dia de hoje e de nossos futuros dias.